domingo, 20 de março de 2011







NAS ASAS DO CARCARÁ

Cresci ouvindo no vozeirão da Bethania as façanhas do Carcará:
Pega. Mata e Come!

Mas, para ser absolutamente sincera,
nunca tive a curiosidade de saber como era.
Sabia que era uma ave, ponto.

No início desta semana mergulhada nas pautas,
entre telefonemas, justificativas e respostas...
um barulho forte na janela quebra o ritmo do estresse.

Olho para a janela rapidamente,
e quem está lá...
com penugem majestosa, cores fortes e um olhar profundo?!?

O personagem da música:
Carcará!!!
"Pega, mata e come.
Carcará mais coragem do que o homi..."

Acho que perdi alguns minutos assim
viajando na música e assustada com o inusitado da visita.
E abobada fiquei meio sem saber o que fazer.

Aí me lembrei de que posso registrar o meu visitante com fotos!!!

Passo a mão no telefone
e numa fração de segundos.
Entre a pressa do clique e acertar o telefone-câmera...
Me apaixono pelo gavião.

Imponente e despreocupado ele passeia na janela que não é minha,
em um vai e vem
de quem estuda o terreno mas que não vai para lugar nenhum.

Com a máquina de ocasião, saio clicando o bichinho sem pedir uma pose.
Tenho que ser rápida porque quem vai acreditar que ele veio me visitar?

A rotina nos trouxe a tensão por estes dias.
Boatos e fofocas povoam a timeline.
Quem sobe, quem desce?
Quem fica, quem se cristaliza no poder?

E ele ali.
Passeando tranquilamente.
Ocupando toda a janela como se tudo isso não existisse.
E existe? Para quem mesmo?

O Caracará me olha nos olhos.
Naquele instante o reconheço, sei quem ele é.
Somos um.
Naquele momento eu sou o gavião que me espreita pelo lado de fora da janela.

Meu coração bate no mesmo ritmo do dele.
Olhos nos olhos nos olhos nos meus olhos.
Sei o que veio me dizer.

Esqueço as fotos
para me juntar a ele.
Neste instante foi-se o medo.

Sou só amor.

Ele me olha uma última vez.
Eu bato a última foto.

Ele abre as asas pretas, lindas
e se vai pelos céus de Brasília.

Vai sem se despedir.

Mas por que me despedir
se vou com ele...
Se vôo com ele...


19 MARZO 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Coelho

Tudo foi muito rápido.

Eu voltava do almoço com amigas onde fui comemorar o meu aniversário.
O dia começou lindo com uma grande pedalada de 10km, como eu gosto.
Muitos telefonemas, mensagens, carinhos de todos os lados.
Feliz com o dia dos meus anos.

Aí, eu resolvi ir ao supermercado.
Coloquei poucas coisinhas no carrinho e na hora de passar as compras,
ele me olhou.

Foi olhos nos olhos.
Penetrante e silencioso.
Estava vestido de laranja, mas seu olhar era o que me hipnotizava.

Nem ouvi direito o boa tarde que a mocinha me deu.
Fui colocando as compras na esteira
e ele me olhava sem parar.

Numa fração de segundos,
a caixa passou o último item e eu o inclui.
Passei a mão pelo pescoço
e nem pensei nas consequências.

Embalamos tudo rapidinho.
Parti para o estacionamento embaixo de uma chuuuuva,
que só deus!

Coloquei as compras no porta-malas,
tudo com bastante pressa,
nisso, ele já estava em minhas mãos.

Sentei no banco do motorista, dei partida no carro.

Olhei silenciosamente para aquele jeitinho maroto.
Tirei o laranja e...
NHAAAAAAAAKKK!!!

Decaptei o bichinho numa só mordida.
As próximas vieram mais calmas.
fui saboreando já sem muita pressa...
até chegar nos pezinhos.

Nunca pensei, aos quarenta e sete,
antes das três da tarde,
pudesse comer
um coelho assim...

Silenciosamente e sem testemunhas
no estacionamento do supermercado!

domingo, 13 de março de 2011

A Nada Importa

Então doeu assim profundamente
naquele dia,
o brincar de ser feliz.

Saio fantasiada com um sorriso fabricado
e os olhos boiando loucos no desespero de alguem me identificar.

Mas o mundo todo está tão envergado em seu proprio umbigo,
que ninguem é capaz de enxergar a dor do outro.

Então dá para passar assim.

Choro no silêncio do carro,
com o sinal aberto ou fechado.
Com a pessoa ao lado ou não.

E ninguém vê ou comenta.
E ninguém sabe.
E não faz diferença.

Só no espaço da minha cama que sou rainha.
Posso ser feliz ou triste.
Não fica nem mais caro nem mais barato.

Dos meus sonhos, eu quem sei.
Se são bonitos ou feios.
Morais ou amorais.
Se doem ou constroem
Nada se opõe.
Será só mais um sonho do qual
não vou mesmo me lembrar de manhã cedo.

E se bebo uma ou duas garrafas.
Geladas ou não.
A nada importa.

Não tem ninguém olhando de verdade para os meus olhos
e nem eu estou também mirando verdadeiramente a alma do outro.

Sigo assim marcando os passos tortos e ébrios na calçada silenciosa.

Se vou ou não pular,
isso também só será dor para alguém
quando, realmente, acontecer.

Ainda é cedo para deixar as lágrimas
lavarem
o que resta do meu rosto.

06 MARZO 2011

Posso Sair?

Às duas horas tudo parece noite.
O tempo não tem colaborado
e contribuido mais e mais e mais para minha dor.

Porque escurece as duas da tarde?
E eu tenho medo de ir embora?

Peço por um milagre.
Acho que mereço.
Rezo e me concentro.

Nada acontece.

O mesmo rosto estranho continua a me perseguir no espelho.

Tenho medo.
Tenho medo.
E não enconto solução.

Em compensação o que sobra são soluços.
Soluços.

Eu nesta idade.
Chorando por não saber o que fazer.

Mas obedeço ao despertador
e acordo e faço check in
e entro no avião e embarco nesta viagem louca.

Vou de um lado para outro
sem saber se solução é uma coisa que existe
ou se a gente compra com tarja preta na farmácia.

Ou engarrafado e destilado no supermercado.

Engordo.
Não entro nas minhas roupas.
Fico deprimida.
Choro quando vejo uma música que me remete a algo bom do passado.

Mas já passou não tem mais.

Toca o telefone do presente e os quarenta e sete já estão aqui.
Marcados no meu rosto.
Esbranquiçados nos meus cabelos.
Arredondando os meus quadris.

Por que faz seis horas as duas?
Por que não sei a resposta?
Por que não encontro você?

Respiro.
Lavo a cabeça no banho.
Mergulho dentro de mim.

Silêncio.

Não quero mais nada.

Posso sair?

13 MARZO 2011

Medida da Saudade

depois de tanto tempo
eu ainda me lembro

revenrencio

faço silencio

e penso.

O tanto de coisas que a gente tinha pra falar.

Todas as gargalhadas que não demos.

Todos os chopps que não bebemos.

Assim voce se foi.
Mergulhou.

Não voltou.

Só se foi.

Assim embora sem dar adeus.

E eu, com tanta coisa para conversar,
discutir,
tantas perguntas,
tantos comentários.

Tive ficar
sozinha
e com tudo isso.

E somar com a saudade de não poder falar
nunca mais contigo.

Só nos meus sonhos.
Só no meu silêncio.

O tempo passa e a gente não tem mais
a medida da saudade.

Mas eu tenho:
muitas
ssaudades de você.

13 MARZO 2011

* para Margot que há 7 anos atrás resolveu ir embora sem se despedir. :(

Muitas Vezes é Igual a 47

Vou começar a semana de um jeito diferente.
Bem diferente.
Vou encarar a segunda-feira fazendo aniversário.

É uma coisa comum.
Todo mundo faz um vez por ano, né?
Mas desta vez esta sendo um pouco diferente para mim.

Somando o tempo que passou.
Multiplicando as experiências.
Diminuindo a dor.
Dividindo os bons e maus momentos,
vou completar 47 anos.

Idade para mim, nunca foi problema.
O tempo está passando e eu vivendo a minha vida.
Uma ruga aqui.
Um cabelo branco ali.

O corpo já não é mais o que eu gostaria de ter,
mas de uma forma geral vou indo bem.

O calendário gira mesmo em torno do dia a dia
e vamos acumulando problemas, soluções,
amigos, amores,
filhos crescidos e tudo isso bem juntinho
faz da gente,
gente grande.

Mas este ano estou vivendo emoções bem diferentes.
Estou em crise.
Isso para mim é uma super novidade.
Até então, não sabia o que era uma crise por causa de idade....

E sem saber o que fazer ando pra lá e pra cá feito barata tonta.

Não sei bem que atitude tomar.
O que é bom?
O que é ruim?
O que se parece comigo?
O que não se pareve comigo?

O que vai bem?
O que vai mal?

Não sei.
Não sei.
E não sei.

São tantos não seis.
que nem sei....

Viajo pra lá
Volto pra cá
e não consigo escolher.

Isso é possível para uma pessoa que está completando
entre somas, multiplicações, divisões e subtrações,
47 anos????


Claro que não.

Então, vou e volto.
Entro e Saio.

Durmo e acordo.
e como tenho muito mais acordado
do que dormido...
Rezo.
Medito.
E não sei.

Ainda.

Mas o que me deixa sobreviver
e não me devora é saber:

Que Tudo Passará.

Como diz o meu braço
Como diz o princípio do Zen

Isto Também Passará.

Então, é seguir adiante.
É fazer a curva.
É aceitar os 47 multiplicados, somados, diminiuidos, divididos.

Assim, a vida segue seu curso
E a única certeza de que tenho é de que vou sobreviver,
porque

Isto Também Passará!

13 Marzo 2011

sábado, 12 de março de 2011

Passou da Medida

Tem certas coisas que para mim já passaram da medida.
Carnaval em Salvador, é um bom exemplo.
Leio os comentários de amigos muito emocionados no Facebook
e tenho absoluta certeza de que não vou nunca mais, não senhor.
Não mesmo.
Nem com convite no camarote da Fulana de Tal.

Passou mesmo. Não tem mais medida isso para mim.

Estou numa fase que tenho autorização para preferir outros programas.
De querer e curtir livros, revista Simples e filmes...
É importante perceber do que passou da medida para mim...

Hoje, por exemplo, em plena terça de carnaval fiz um super programa.
Almoço em Manguinhos com a família.
Caranguejos, Peroás e Moquecas acompanhados de cerveja gelada.
Delicia de Devassa gelada sem a Sandy, é claro, mas feliz! Como diz o meu filho.

Para fechar a tarde chuvosa com chave de ouro,
um suco de laranja e um café sem açúcar na Pannier com Celinha.
Duas horas de conversa nem tão fiada assim, mas das boas.
Isso é o melhor do carnaval.

Salvador é para quem ainda está procurando alguma coisa.
Eu, se ainda não encontrei, não é lá que vou achar mesmo.
Barulho ao extremo, pessoas com ansiedade pra lá de grande.
Vibe!
Vaidades, abadás, beijo na boca, Ivete e Claudia Camaleando...
Sem vale night, com vale night para mim, isso não vale nada.

Um grande amigo outro dia desses me fez a seguinte pergunta:
O que é luxo para você?

Para mim é sandalia de dedo no pé.
Caminhadas na praia, seguidas de pedaladas.
Bom livro na sombra da castanheira.
Olhos fechados, respiração.
Caipirinha, cerveja gelada.
Mergulho no mar de Cumuru.
Cochilo na rede.
O macarrão da Su.
Red Wine!
A pizza do Felini Paulista.

O sono reparador acompanhado do barulhinho do mar.
E o café da manhã da Milene que permite tudo isso começar de novo.
Sem pressa.

Tem coisas que realmente passaram da medida.
Que não estão mais no quesito luxo.
Desejo por desejo.
Bateria, comissão de frente, bloco do bicho,
não quero mais ninguém pensando em me devorar.

Meu bloco agora é o do sossego.
Fechar bem os olhos.
Olhar mais para dentro.
Deixar sair só o ar depois de contar até sete.

Sinto Muito.
Meu carnaval de agora para frente,
será assim...
Ou não?!?

08 MARZO 2011