
NAS ASAS DO CARCARÁ
Cresci ouvindo no vozeirão da Bethania as façanhas do Carcará:
Pega. Mata e Come!
Mas, para ser absolutamente sincera,
nunca tive a curiosidade de saber como era.
Sabia que era uma ave, ponto.
No início desta semana mergulhada nas pautas,
entre telefonemas, justificativas e respostas...
um barulho forte na janela quebra o ritmo do estresse.
Olho para a janela rapidamente,
e quem está lá...
com penugem majestosa, cores fortes e um olhar profundo?!?
O personagem da música:
Carcará!!!
"Pega, mata e come.
Carcará mais coragem do que o homi..."
Acho que perdi alguns minutos assim
viajando na música e assustada com o inusitado da visita.
E abobada fiquei meio sem saber o que fazer.
Aí me lembrei de que posso registrar o meu visitante com fotos!!!
Passo a mão no telefone
e numa fração de segundos.
Entre a pressa do clique e acertar o telefone-câmera...
Me apaixono pelo gavião.
Imponente e despreocupado ele passeia na janela que não é minha,
em um vai e vem
de quem estuda o terreno mas que não vai para lugar nenhum.
Com a máquina de ocasião, saio clicando o bichinho sem pedir uma pose.
Tenho que ser rápida porque quem vai acreditar que ele veio me visitar?
A rotina nos trouxe a tensão por estes dias.
Boatos e fofocas povoam a timeline.
Quem sobe, quem desce?
Quem fica, quem se cristaliza no poder?
E ele ali.
Passeando tranquilamente.
Ocupando toda a janela como se tudo isso não existisse.
E existe? Para quem mesmo?
O Caracará me olha nos olhos.
Naquele instante o reconheço, sei quem ele é.
Somos um.
Naquele momento eu sou o gavião que me espreita pelo lado de fora da janela.
Meu coração bate no mesmo ritmo do dele.
Olhos nos olhos nos olhos nos meus olhos.
Sei o que veio me dizer.
Esqueço as fotos
para me juntar a ele.
Neste instante foi-se o medo.
Sou só amor.
Ele me olha uma última vez.
Eu bato a última foto.
Ele abre as asas pretas, lindas
e se vai pelos céus de Brasília.
Vai sem se despedir.
Mas por que me despedir
se vou com ele...
Se vôo com ele...
19 MARZO 2011